quinta-feira, 19 de março de 2009

Envelhecendo em boa companhia


Para dona Maria Gualda, a TV do quarto é a janela para o mundo. Ali ao lado, Marlene viaja com seus livros, enquanto Helenice navega por onde quiser usando o computador. No apartamento em São Paulo, cada uma tem seu espaço, mas o que elas gostam mesmo é de estarem juntas.
"Não fazemos nada separadas. Almoço, teatro, show – seja o que for, é sempre junto. Nós três temos temperamentos fortes", diz Helenice Gualda, de 63 anos.
"Os amigos são praticamente os mesmos", acrescenta Marlene Gualda, de 60 anos.
O sangue é quente, mas o coração é grande, como o humor dessa mãe de 86 anos e de suas duas filhas, que já passaram dos 60.
"Nosso relacionamento é entre tapas e beijos", brinca Helenice.
E são muito mais beijos que desavenças. Ninguém dorme de mal uma com a outra e, quando aparece uma oportunidade, as três arrumam as malas.
Mas, quando a estrada da vida é longa, problemas, é claro, aparecem. Dona Maria se recupera de uma fratura de fêmur. Marlene também não se deixou abater pelo grave problema que teve no pulmão. "Mandei (o câncer) embora", diz.
Helenice é outra que segue firme. Está disposta a envelhecer bem e do jeito dela. "Eu me esforço para não sair de maria-chiquinha. Eu tenho que tomar cuidado porque me visto da mesma forma como há 20, 30 anos. O pessoal fala da franja. Qual é o problema de eu ter franja com 63 anos? Por que vou mudar?", questiona.
Um belo retrato do envelhecimento. Quanto mais gente por perto quando a idade avança melhor fica a vida. Na família Gualda é assim. E essa é parte da realidade de uma pesquisa feita pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). No ano 2000, os pesquisadores, de casa em casa, entrevistaram mais de 2 mil idosos em São Paulo.
No ano passado, voltaram a entrevistar as mesmas pessoas para saber quais mudanças estão acontecendo no processo de envelhecimento.
"Nos nossos resultados, observamos que a realização de exames preventivos cresceu muito – mais de 50%. Isso mostra duas coisas: eles estão preocupados e buscam os exames e, de alguma forma, estão conseguindo acessar os serviços de saúde e realizar exames preventivos, como Papanicolau, mamografia e exame de próstata", revela a professora de enfermagem Yeda Duarte, da USP.
Outro ponto positivo: aumentou o número de idosos que fazem três refeições por dia e que conseguem se sustentar com o que ganham.
Mas as entrevistadoras encontraram também o lado triste do envelhecimento. "O cuidado displicente às vezes com o idoso, a omissão do cuidado pessoal e a solidão. Nós encontramos 10% dos idosos dizendo que tiveram algum tipo de violência – verbal ou financeira, pois também tem a questão do abuso do dinheiro do idoso", diz a coordenadora da pesquisa, Maria Lúcia Lebrão.
Isso acontece em São Paulo e de maneira ainda mais cruel nos lugares mais pobres do país.

matéria retirada do globo reporter



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