terça-feira, 30 de junho de 2009











Afeto influencia a formação do cérebro
  • Crianças maltratadas na infância se tornam adultos esquecidos. E as que recebem mais carinho desenvolvem melhor as capacidades do cérebro.

  • O que há em comum entre um estudante que não consegue se lembrar de nada que aprendeu na aula e um adulto deprimido que se esquece das coisas mais elementares? "Você faz uma lista de compras e, quando chega ao supermercado, descobre que deixou a lista em casa", conta uma mulher. O que ela não esquece, de jeito nenhum, é o passado difícil. Ela foi voluntária em um estudo que provou: as falhas de memória dos adultos podem ter origem na primeira infância.

    A memória é como um museu, onde guardamos o que vivemos e aprendemos.Um arquivo que muda ao longo do tempo, mas que começa a ser organizado nos primeiros anos de vida, justamente quando o desenvolvimento do cérebro é mais influenciado pelo ambiente da nossa casa.Segundo os pesquisadores, é nesse momento que a falta de um toque de carinho faz com que se apague do cérebro a habilidade de reter informações importantes.

  • Na mente das crianças, dificuldades são entendidas como ameaça: fome, frio ou mesmo pouco cuidado por parte dos pais. O estresse libera um hormônio chamado cortisol. Em excesso em um cérebro ainda jovem, ele pode ser um veneno para as células nervosas. "Isso pode afetar diretamente a memória. É de se esperar que essa estrutura não tenha se formado de maneira adequada", diz o psiquiatra Rodrigo Grassi, da Puc do Rio Grande do Sul Muitas vezes, a falha dos pais não é intencional, mas provoca um trauma.

  • Acontece quando eles "pensam" estar educando os filhos. "Eu ficava de castigo, de joelho. Cada um tinha seu canto. Se um fizesse malcriação, os outros irmãos pagavam junto. Dizer 'já vou' quando eles nos chamavam já era considerado malcriação. Por causa disso, levei um tapa na boca que arrebentou minha boca por dentro e me deixou uma semana sem comer. Eu tomava sopa de canudinho. Tudo porque eu não disse 'sim, senhor, já vou indo'", lembra a mulher. "À noite, não tinha janta. Meu pai dizia que criança não precisa jantar", conta outra mulher.

  • Foram histórias como essa que chamaram a atenção do psiquiatra Rodrigo Grassi. Ele ouviu pacientes de um hospital público de Porto Alegre e descobriu que a negligência dos pais marca a vida dos filhos, que se tornam adultos incapazes de reter as informações que acabaram de ouvir.

  • "Realmente, é uma cicatriz que fica. Eu acho que a terapia consegue ajudar as pessoas a lidar melhor com algumas possíveis dificuldades de memória. Já que elas não vão conseguir segurar toda informação do recado que acabaram de ouvir no telefone, vão aprender a anotar", diz Rodrigo Grassi.

  • Mas como evitar esse mal? Para o bem da memória, muita paciência. A professora Ivana Souza sabe que não é fácil. Mal termina o banho de um filho, já tem que cuidar do outro. Na casa da família, tem comida e carinho. E bronca também. "Não somos de muito mimo, muito dengo, paparicos. Tivemos filhos novos e não temos muita paciência", conta. O segredo é tentar dar limites e carinho na hora certa – um desafio. "Não adianta só gostar, tem que demonstrar que gosta. Temos que ensinar as pessoas o que é amar", diz a voluntária do estudo.

  • Amor que garante atenção para as crianças e não custa nada. A pesquisa sugere que ele é o melhor remédio também para uma boa memória.
Matéria retirada do globo reporter!